quinta-feira, 17 de maio de 2007

Saudades além fronteiras...

... ou será que por estar "a terminar" vos quero pôr outra vez a ouvir Mariza, A Grande?

É tudo... mas eu preferia que fosse nada.

Chuva (também se ouve aqui)

(J.F / J.F)

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudade
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história

Da história da gente
E outros de quem nem o nome
Lembramos ouvir

São emoções que dão vida

À saudade que trago
Aquelas que tive contigo
E acabei por perder

Há dias que marcam a alma

E a vida da gente
E aquele em que tu me deixaste
Não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto

Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai, meu choro de moça perdida

Gritava à cidade
Que o fogo do amor sob a chuva
Há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
Meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

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Le cose volgari che ci sono nella vita

Non lasciano nostalgia
Solo i ricordi che fanno male
O fanno sorridere

C’è gente che resta nella storia

Della storia della gente
E altre persone di cui nemmeno il nome
Ricordiamo di sentire

Sono le emozioni che danno vita

Alla nostalgia che porto
Quelle che ho avuto con te
E ho finito per perdere

Ci sono giorni che segnano l’anima

E la vita della gente
E quello in cui tu mi hai lasciato
Non lo posso dimenticare

La pioggia mi bagnava il viso

Gelido e stanco
Le strade della città
Io già percorrevo

Ai… il mio pianto di ragazza perduta

Gridava alla città
Che il fuoco dell’amore sotto la pioggia
In instanti morirà

La pioggia ha sentito e ha custodito

Il mio segreto alla città
E qui che lei batte sul vetro
Portando la nostalgia.

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Things which are distasteful in life

Leave us with no longing
Only the memories which hurt
Or make us smile

There are people who make history

In the history of people
And others we can't even
Remember their names

They are emotions that give life

To the longing I carry
Those which I had with you
And ended up losing

There are days that mark the soul

And life of people
And the day you left me
I cannot forget

The rain drenched my face

Cold and tired
The streets of the city
Each one I have wandered

Oh, my lost child lament

Cried out to the city
That love's fire under the rain
Had died instants ago

The rain heard and kept

My secret from the city
And listen to how it beats on the glass
Bringing that nostalgia back.

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Las cosas vulgares que hay en la vida

No dejan deseos ansiosos
Sólo los recuerdos que duelen
O hacen sonreír

Hay gentes que hacen historia

En la historia de la gente
Y otras de quien ni el nombre
Recordamos oír

Son emociones que dan vida

A los deseos ansiosos que traigo
Aquellas que tuve contigo
Y acabé por perder

Hay días que marcan el alma

Y la vida de la gente
Y aquel en el que tú me dejaste
No puedo olvidar

La lluvia mojaba mi rostro

Helado y cansado
Las calles de la ciudad
Ya las recorrí

Ay, mi llanto de niña perdida

Gritaba a la ciudad
Que el fuego del amor bajo la lluvia
Hace instantes murió

La lluvia oyó y calló

Mi secreto a la ciudad
Y escucha como bate la ventana
Trayendo esa ansiedad

terça-feira, 1 de maio de 2007

A Vida é um Milagre




O António nasceu!... dia 27 de Abril, às 22.04, na CUF Descobertas. E agora já está em casa.

O António é pequenino: não chega a pesar 3 quilos. Tem muito cabelo e pelinhos nas bochechas. Veio cheio de pressa, com 20 dias de antecedência, sem ter sequer dado tempo à mãe de usufruir de uns merecidos dias de férias.

O António é tão queridinho, nunca chora. Nem mesmo quando está esfomeado, nem quando os tios - que são tantos - o vão passando de colo em colo. E tem bochechas rosadinhas e cheiinhas para dar beijinhos.

António quer dizer "príncipe". E ele é o nosso príncipe dos olhos à chinês: sempre que os abre vê-se bem que são rasgados como os do pai. Tem a boca e o nariz do "Zé lindo", que é o meu "mano" de seis anos e o tio mais novo do bebé.

Sou a tia mais babada do Mundo!

sábado, 10 de março de 2007

Os olhos azuis da irmã do Jaime


«No último "Prós e Contras", a eurodeputada Edite Estrela considerou que o aborto poderia ser legítimo, caso a mãe descobrisse que a criança era portadora de trissomia 21.

Eu tenho uma irmã com olhos azuis. Chama-se Mónica, tem 22 anos e tirou o curso profissional de Serviços Básicos de Hospitalidade.

Trabalha hoje numa pastelaria de Lisboa. Os olhos dela são lindos e ela é educada, feminina, anda sempre perfumada...

A Mónica é a minha irmã e irmã de mais três. Gostamos muito dela e ela é muito feliz. Dá unidade à família, está atenta sempre a todos e a cada um.

A sra. eurodeputada não tem os olhos azuis, mas tem uns olhos tão bonitos como os da Mónica. Tem os talentos e as virtudes de avó e de mãe. E tem dificuldades; certamente também chora e se alegra, é mais uma das pessoas deste nosso planeta que acorda todas as manhãs e lava os dentes.

De certeza que já viu um pobre na rua e lhe estendeu a mão direita (a esquerda) ou as duas, ou olhou para uma prostituta e sentiu pena. De certeza que já ajudou alguém em apuros.

Gostávamos que viesse a nossa casa, provasse os "muffins" que a Mónica faz e visse o gosto com que ela põe a mesa. E descobrisse que esta menina de olhos azuis tem... trissomia 21.

E ficaria bem contente por ela ter nascido. Tal como nós. Tal como qualquer pessoa.»

Jaime Bilbao

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Imperdível



Música no Coração
de Howard Lindsay e Russel Crouse
com encenação de Filipe La Féria

Caminho da Manhã

"Vai pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Ai deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco de cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira bancada de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como elas cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor-de-rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra.

À tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos mas azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada.

Lá dentro ficarás ajoelhado na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível."

Sophia de Mello Breyner Andresen